domingo, 14 de dezembro de 2008

A Dor

Há muito tempo que não tenho dado notícias. Porém, cá estou eu novamente para partilhar com aqueles que se interessarem um pouco dos meus pensamentos.
Hoje farei uma reflexão sobre a dor e para isso tomarei como base os ensinamentos desse grande Mestre que foi Buda.
Tudo começou quando ele ainda era o príncipe Sidharta Gautama e vivia num cercado de beleza, juventude e alegria, tudo obra do seu pai que queria impedir que a natureza de sábio de Sidharta despertasse.
Porém, os Devas resolveram interferir e um dia, passeando com o seu cocheiro, o príncipe vê um velho, um doente e um morto. Para ele foi tudo uma novidade pois ele nunca tinha presenciado a velhice, a doença e a morte. Uma dor terrível inundou o seu coração e ele constatou como a sua vida tinha sido uma ilusão até ao momento. A partir daí ele procurou o caminho da libertação e propagou as 4 Nobres Verdades. Elas são:

1.ª A verdade sobre a dor. A dor faz parte da existência e desde o seu nascimento o homem convive com ela. O sofrimento, as mágoas, as alegrias; a imperfeição das coisas e a sua impermanência são tudo fonte de dor. Aqui pode fazer confusão o facto de a alegria estar presente como sendo causa de dor, porém, a alegria não dura para sempre e assim que esse estado cessa de estar presente entra o sofrimento de ele ter acabado, daí a sua presença.

2.ª A verdade sobre a origem da dor. A causa da dor provém do facto de o homem tomar com realidade o mundo fenomenal e os seu objectos. Ele gasta uma energia tremenda em querer possuir objectos que, pertencendo ao mundo mutável, são impermanentes. É aqui que nasce o desejo, Tanha para os budistas, a sede de prazer, de existir aquela que faz com que o homem queira renascer novamente em busca de novos prazeres dos sentidos.

3.ª A verdade sobre a cessação da dor. O homem tem que ter consciência que a dor expira assim que a «sede» desaparece e isso somente acontece quando ele consegue atingir o Eu Superior, o Atman dos indianos, aquele que está acima do sofrimento, do prazer, da morte. Quanto mais o homem deseja, mas se afasta de Atman, por isso ele deve conseguir libertar-se do desejo e procurar o desprendimento unindo-se a lei que rege o Universo: Dharma (esta Lei está por trás de tudo o que acontece na Natureza e no Homem).

4.ª A verdade sobre o caminho que leva à cessação da dor: o Nobre Caminho Óctuplo.
– Compreensão Justa
– Intenção Justa
– Palavra Justa
– Acção Justa
– Meio de existência Justo
– Esforço Justo
– Atenção Justa
– Concentração Justa

Meditar sobre estes quatro pontos é a chave para que a dor deixe de estar presente em nós. O problema é que nos dias que correm o ser humano não gosta de encarar a dor, ele foge dela em vez de procurar compreendê-la e saber a sua origem. Fomenta-se o prazer como forma de fugir ao sofrimento, sem se perceber que isso somente fomentará mais sede de desejo e consequentemente mais dor.
Porém, tendo consciência de que a dor é algo que todo o ser humano experimenta podemos encará-la como normal e procurar aprender com a sua presença. Vou dar um exemplo: imaginem uma criança que nunca tinha visto um fósforo a arder. Imediatamente ela tenta pegar nele mas queima-se e larga-o. A dor funcionou como aviso de que algo de mal tinha acontecido e na próxima vez a criança não procurará apanhar o fósforo.
A nível psicológico acontece o mesmo, ou seja, sempre que sentimos dor é um aviso de que estamos a fazer algo que não está correcto. Então há que determinar a causa do sofrimento e procurar irradicá-la. E para isso é importante o homem conhecer-se a si mesmo e conseguir perceber o que o poderá fazer sofrer ou não. Se ele agir contra a sua natureza irá sofrer por isso, se agir contra aquilo que o Destino lhe «propôs» também irá sofrer, se desejar ardentemente algo que lhe está inacessível a dor será presença assídua.
Compreendo isto e sabendo actuar de uma maneira harmónica de acordo com o que o Destino lhe concedeu o ser humano acaba por ver na dor algo que o ajuda a melhorar e a perceber o caminho correcto a seguir.